ÚLTIMA VISITA NA PONTA DA TULHA, JUCA LÉO E TASSO
Léo Briglia (Itabuna, 29 de
agosto de 1928) é um ex-futebolista brasileiro. Destacou-se no Bahia na década
de 1950, e foi o artilheiro da primeiro edição do Campeonato Brasileiro, em
1959. Nesta edição, marcou gols em todas as partidas e foi um dos principais
responsáveis pela conquista histórica do Esquadrão de Aço, primeiro campeão
brasileiro. O itabunense Léo Briglia, irreverente, boêmio e, acima de tudo, o
craque que ganhou as páginas dos principais jornais e revistas do país, chegou
a ser convocado para a Seleção. Mas problemas físicos o impediram e ele foi
substituído pela maior estrela do futebol brasileiro, o rei Pelé.
Léo foi “descoberto” quando
atuava pela (Fube) - Federação Universitária Baiana de Esportes numa preliminar
de Bahia e América em Salvador. Suas jogadas despertaram a
atenção do técnico Grita, um Uruguaio, que o convidou para jogar no Rio.
Sabendo que o pai não concordaria, ele saiu de casa às escondidas. “Minha
família soube pelos jornais e revistas, quando eu já estava jogando no
América”, conta.
No Rio, os treinos
eram realizados no campo do Vasco. Ao observar a atuação do jogador, o técnico do Vasco, Flávio Costa, o convidou
para o clube, só que, àquela altura, ele já havia assinado contrato com o
América. Mas havia um problema: o pai de Léo teria que assinar o contrato.
Prevendo a resistência, foi enviado um diretor importante politicamente, o
Ministro do Trabalho, que foi a Salvador, onde a família tinha residência para
os filhos estudarem. Porém, o pai do jogador, o coronel de cacau Francisco
Briglia, não levou o poder político em consideração. “Ele rasgou o contrato e
xingou o ministro, dizendo, você é descarado igual a Léo”, conta o ex-jogador.
Mas “arranjaram um
jeitinho” pra Léo continuar no Rio. O vice-presidente do América era juiz de
Direito e assinou o contrato se responsabilizando pelo jogador, que permaneceu
no clube durante três anos, de 1947 a 1949. Neste último ano, aconteceu algo
inesperado: o América veio jogar em Ilhéus. Léo se hospedou,
junto com a equipe, no Ilhéus Hotel e decidiu visitar os familiares em Itabuna. Quando chegou,
recebeu voz de prisão do irmão, Eudes Briglia, que era delegado, ao tempo em
que ouvia o vozeirão de Chico Briglia, aos berros: “Você não vai voltar mais,
seu moleque vagabundo!”.
O jeito foi
ficar por aqui, jogando nos times de Itabuna contra os de fora, a exemplo de Bahia, Botafogo e Ipiranga. “Nós papávamos todos eles”, diz orgulhoso. Quando
o futebol itabunense entrou em declínio, em 1953, ele foi para o Colo-Colo de Ilhéus. O “Tigre” foi campeão em 1953 e 1954 e Leo o artilheiro absoluto. Depois do Colo Colo, conseguiu
um emprego de auditor fiscal em Salvador, através do Governador Juracy
Magalhães, seu
padrinho. Lá, foi recusado pelo Vitóriae enfrentou
resistências para ser contratado pelo Bahia, por causa da fama de boêmio.
Em 1958, Leo Briglia foi
convocado para a Seleção Brasileira, pelo técnico Vicente Feola.
Mas foi cortado dezoito horas antes do embarque para a Suécia,
porque seu ex-treinador do Fluminense havia declarado a um importante jornal da
época, que o joelho do atleta estava lesado e seus dentes tinham muita cáries.
Por isso, ficou definitivamente fora da Seleção. Foi substituído por Dida, do Flamengo. Em
relação às cáries, vale lembrar que todos os seus dentes foram extraídos e,
dias depois, substituídos por uma dentadura.
Sobre o
corte na Seleção, Léo fala conformado que futebol tem dessas coisas e afirma
que neste incidente houve um aspecto positivo, que foi a oportunidade dada
àquele que se tornou a maior estrela do futebol brasileiro. "Se eu fosse
para a Suécia, o Pelé não iria brilhar porque não teria a oportunidade de
jogar, pois a posição era minha e não lha daria esta chance. Mas era pra ser
Pelé e assim foi", diz Léo Briglia.
Léo tentou jogar no Vitória,
mas o dirigente rubro negro Ney Ferreira não aceitou, argumentando que ele
estava velho, decadente e em fim de carreira. Com a negativa, o ex-jogador e
técnico do Bahia, Geninho sugeriu sua contratação ao presidente do clube,
Osório Vilas-Boas, que reagiu de forma semelhante, argumentando que “Léo bebe
muito e é irresponsável”.
Geninho
insistiu, assumindo um arriscado compromisso: “Contrate Léo que eu lhe dou a
Taça Brasil de presente”.
Por
ironia, foi no Bahia que viveu sua melhor fase como jogador de futebol. O clube
foi para a final da Taça Brasil, numa melhor de três, contra o Santos. A
primeira,em plena Vila Belmiro,o
Bahia surpreendeu o Santos ao vencer por 3x2. No segundo confronto na Fonte Nova perdeu por 2x0. Mas venceu a partida
decisiva em campo neutro, e sagrou-se o primeiro campeão da Taça Brasil,
derrotando o time de Pelé por 3x1 na final no Maracanã.
Leó, que havia marcado gols em todas as partidas, fez um golaço na decisiva e
consagrou-se artilheiro do campeonato. No final do jogo, Osório Vilas-Boas foi
parabenizá-lo, mas não conseguiu pronunciar nem uma palavra. As lágrimas
falaram por ele.
Mas
Leo, além de ser o primeiro artilheiro do Brasil, teve vários outros títulos
conquistados. Entrou e colocou a Bahia numa das páginas de maior destaque do
nosso futebol. Auditor Fiscal aposentado, pai de 16 filhos, resultado de 14
casamentos, Leo atualmente mora na Ponta da Tulha, em Ilhéus, onde ainda
aprecia a boemia e recorda com felicidade a duradoura fase áurea da sua
carreira.
Das suas
histórias envolvendo mulheres e bebidas, uma aconteceu no Fluminense do Rio. O time estava concentrado num hotel para o clássico
contra o Vasco no dia seguinte. Ele não resistiu a um convite e fugiu para uma
festa numa boate. De madrugada, apareceu o técnico Zezé Moreira e o levou para o hotel. Lá, às quatro da manhã, ouviu a
sentença: “Enquanto eu estiver aqui, você não veste mais a camisa do
Fluminense. Mas não vou dizer pra ninguém, por que lhe tirei do time”. Porém,
um incidente levou o técnico a mudar os planos: um jogador se machucou e Leo
foi convocado. Entrou, fez dois gols e o Fluminense venceu por 5X2.